quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Inspirar é preciso. Viver, nem tanto.

Cuidado como, para e por onde navega.
Imagem do artista darkpi
Quando eu estava na sétima série, a professora de Língua Portuguesa explicou o significado da expressão "Navegar é preciso. Viver, não". Depois que Pompeu, os hanseáticos, Luís de Camões e finalmente Fernando Pessoa pronunciaram essa oração, muita história foi criada ao seu redor.

A primeira coisa que eu pensei foi "Como assim, viver não é preciso... é claro que é. Se não vivermos não somos mais nada, e nada mais importa (até que me provem o contrário)."
Mas aí ela fez cair uma ficha gigante no meu cérebro. Ela me fez perceber que as palavras magicamente podem se unir e, dependendo de como essa união se dá, elas podem adquirir outros significados.

Eu não concordo plenamente com a frase "Viver, não". Porque, de certo modo, a vida tem uma precisão. Pode-se até levá-la no humor. Pense comigo: Um sujeito que é atropelado. Ele não esperava por isso, tampouco fez de propósito. Mas houve uma precisão entre ele e o veículo que o atropelou. Se não houvesse a precisão do fato, a precisão da vida, ele poderia ter escapado.

Eu também não acredito totalmente no destino. Assim como o Neo, de Matrix, eu não gosto da ideia de não poder controlar a minha vida. Gandhi, por sua vez, estava certíssimo ao dizer que o homem primeiro gasta a saúde para ganhar dinheiro e depois gasta o dinheiro para recuperar a saúde (como um ato de inconsequencia ou ganância). Mas fazer o quê... o ser humano luta o quanto pode, Gandhi. Muita gente abre mão da própria saúde pra tentar dar, a outras pessoas, o que não teve.

Ideais fazem isso. Ideais são como drogas. Você o tem dentro de si e de repente não é mais si mesmo, está correndo atrás de um pote de ouro no fim de um arco-íris que nunca existiu. Um ideal é tão poderoso que você é capaz de fazer chover num fim de tarde de outono só pra que se forme um arco-íris e você possa acreditar que nele existe um fim reluzente.

Enfim, em algum dia de 2005, minha professora me explicou que navegar é preciso para que o navegador chegue ao destino. É necessário PRECISÃO, certeza - nos cálculos, nas rotas, na interpretação dos ventos - para que se chegue aonde se quer. Agora, viver não é assim, explicou ela. Viver não é preciso no sentido de EXATIDÃO. Viver é repentino. Não se pode prever. Somos movidos a sentimentos, as coisas acontecem com e sem o nosso consentimento o tempo todo, inclusive enquanto dormimos. Somos dependentes. Somos imperfeitos. Os próprios relógios não medem os segundos com exatidão absoluta.
Tudo isso faz a vida não ser precisa. Mas isso quer dizer algo ruim?

Um comentário:

  1. Sérgio, belissímo post. Pois é a mais pura verdade.
    Precisamos viver e acredito que perceber mais as coisas que está ao nosso redor.

    abraços

    leo

    www.upidupi.com

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